segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Meios para maior leveza e agilidade nas instituições. Seminário da CRB

A busca de maior leveza e agilidade nas instituições foi o tema de destaque no Seminário Nacional sobre a Vida Consagrada, neste sábado, 25. O evento promovido pela CRB Nacional - Conferência dos Religiosos do Brasil, reúne desde o dia 23, mais de 400 religiosos e religiosas do país, em Itaici, Indaiatuba- SP.


Irmão Afonso Murad (Foto: CRB)
O tema foi abordado pelo Irmão Afonso Murad, marista, da Equipe de Reflexão Teológica da CRB, que iniciou a sua exposição com a exibição de um vídeo sobre a história de superação de Diego, um menino cego que escreveu em braille, uma redação sobre as cores das flores, com sua máquina de escrever.

Iluminado por essa história, Irmão Murad apresentou alguns meios para diminuir o peso das Instituições que, segundo ele, encontram-se engessadas. “A vida adulta inclui os dois lados: a leveza e a carga, desafios que devemos assumir. O problema é quando isso fica desequilibrado e o peso é maior”, explicou ao apontar a necessidade de eliminar pesos inúteis, mas também “aprender a lidar com aqueles pesos que ainda não convém abandonar e acolher as cargas que fazem parte da existência pessoal e comunitária”, destacou.

Para avaliar pesos inúteis, o assessor propôs textos bíblicos lembrando que “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres”. Nesse processo, segundo Murad, é importante enfrentar os desafios juntos. Existem cruzes na vida do povo que precisam ser tiradas, mas “sempre que entramos em processos de mudanças temos resistências”, alertou para, em seguida apresentar uma lista de pesos institucionais: “máquina burocrática com muitas estruturas; concentração do poder que afeta as relações interpessoais; excesso de obras e poucas pessoas; atitudes de negativismo, pessimismo; envelhecimento e perda de energia”.

Leveza e agilidade nas estruturas de governo que inclui uma revisão na quantidade e qualidade das reuniões, descentralizar as decisões e responsabilidade, abrir as instituições para a participação dos leigos e profissionais e aprender com congregações que já fizeram as mudanças, são, segundo Irmão Murad algumas das soluções.

Historicamente, com a expansão das obras criaram-se divisões jurídicas em Províncias ou Regiões. “Hoje, com a diminuição de pessoal é preciso enfrentar a redução também das Províncias e rever a prática de comunicação para manter vivo o carisma e a unidade”, explicou ao destacar a importância de se fazer uma gestão dinâmica e mais profissional das instituições.

Sobre a concentração de poder que traz cansaço, desmotivação e repetição, Murad afirmou que isso faz mal tanto para quem manda quanto para os que (des)obedecem além de afetar a vitalidade do carisma. “É necessário investir em novas lideranças. Há casos difíceis de solucionar, reis e rainhas que não soltam a coroa”.

Por fim, falou do envelhecimento e da doença na Vida Congada ressaltando a necessidade de cuidar com carinho dessas pessoas. “Precisamos compreender que ninguém é obrigado a ser leve, mas temos uma oportunidade de melhorar a nossa forma de viver com mudança e conversão para ser mais feliz e alegre. A insegurança gera dureza, a liberdade interior gera leveza e itinerância”, concluiu.

Na sequência, a Equipe de Reflexão Psicológica apontou estruturas pessoas e interpessoais que pesam. Padre Deolino Baldissera, sds, teceu considerações sobre as estruturas pessoais e interpessoais pesadas. O psicólogo destacou três critérios para compreender as pessoas: “examinar o nível de contentamento pessoal; a qualidade das relações com os outros e a qualidade com que a pessoa assume as próprias responsabilidades”.

Segundo padre Deolindo, é possível observar a intensidade dos conflitos nas pessoas através da capacidade que elas têm de fazer a experiência de Deus, estabelecer as relações interpessoais, de estudar e trabalhar. O religioso apontou ainda algumas características que ajudam a perceber quando um indivíduo é mais ou menos saudável. “E isso se refletirá na maior ou menor leveza no exercício de suas funções. Quanto mais saudáveis, mais propensos à leveza”.

Irmã Fátima Moraes, ascj, que também integra a equipe de psicólogos, mostrou as características de uma pessoa pesada. Segundo ela, “essa liderança é rígida com o outro que é visto como uma ameaça e, isso bloqueia a dinâmica da comunidade. O maior peso vem do infantilismo e de coisas insignificantes”.

A pessoa pesada acumula o peso em sua jornada como “dores, mágoas, ressentimentos, o que dificulta a caminhada. Fixa-se em detalhes e não consegue dar passos. É uma pessoa tensa, agitada e desconfiada. São pessoas cansadas, tristes e sujeitas a doenças psíquicas”, alertou. Para a religiosa, a pessoa que é pesada interfere nas relações interpessoais.


Participantes do Seminário sobre a Vida Consagrada destacam a relevância dos temas debatidos no evento
No período da tarde aconteceu a Assembleia Geral Ordinária da CRB, no contexto da temática debatida no Seminário.

De acordo com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), há uma conformação por parte da VRC com o mundo e ao confrontar essa realidade com o Evangelho, constata-se que Jesus Cristo não é uma conformação, mas uma transformação. É sobre essa questão que se embasa a opção pela temática. Para Frei Moacir Casagrande, assessor da Equipe Bíblica da CRB, a loucura significa dar a vida para o outro ao invés de tomá-la para si. “Essa é a loucura de Deus, Ele se entrega e quer apenas que entremos na dinâmica dele”, finaliza.

Para os organizadores do Seminário, a Vida Consagrada não pode perder a sua essência que consiste na doação total de si, a exemplo de Jesus Cristo. A leveza é necessária para caminhar e “poder chegar até o fim”, enfatiza Casagrande. No decorrer do Seminário, após cada intervenção dos assessores, a assembleia faz ressonância do tema em pequenos grupos. Essa é uma oportunidade para reagir e apresentar sinais de estruturas que dificultam ou facilitam a vida e a missão das congregações. “Mas a gente percebe que o mais importante é rever o próprio coração e as estruturas internas que precisam ser renovadas”, diz Irmã Helena Petri, Provincial da Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas.

A consciência de que é necessário rever a prática das instituições, formas de lideranças, realidades que não eram vistas, são apontadas pelos participantes como fatores positivos na avaliação. Além disso, para Padre Adalto Chitolina, SCJ, a possibilidade de enfocar os assuntos sob ângulos diferentes, teológico, psicológico, bíblico e missionário “ajuda a compreender que, as questões levantadas não se resumem apenas num aspecto, mas tem várias abrangências”, comenta.

Essa busca de uma maior leveza no ser e agir, nas relações comunitárias, na missão e nas obras, é uma busca comum. “Aqui percebermos que os problemas e as alegrias são visíveis em todas as congregações”, comenta Padre Lino Baggio, provincial dos Padres Palotinos. “O tema não vai ficar apenas com as pessoas que estão aqui, eles vão ser repassados para os regionais, as comunidades e congregações”, observa Irmã Solange Damião,CRSD, Presidente da CRB Regional de Belo Horizonte – MG, e destaca a necessidade de dar prosseguimento às discussões realizadas no Seminário.

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