Segundo o evangelista Mateus, é importante a consciência de que “a ira do homem não realiza a justiça de Deus”
(Tg 1,20) e que é pela prática da justiça divina que a sua vida é
restaurada sobre a terra. Isto é tão fundamental que se torna
imprescindível na vida existencial do homem e extensivo a todas as
outras práticas, no seu dia a dia, para tornar possível a convivência
dos homens entre si e entre o meio ambiente.
“Ouvistes o que foi dito…”, “Eu, porém, vos digo…”.
Jesus não pretende “reformar” a complexa doutrina do Judaísmo. Ele
veio nos ensinar a viver em plenitude a Lei de Deus e nos adverte que a
nossa justiça deve ser maior do que a dos mestres e dos fariseus que
viviam na rigidez da Lei, mas se esqueciam de que o maior mandamento do
Senhor era justamente o amor; também se esqueceram de que, mais
importante que a Lei em si, é o bom relacionamento entre as pessoas.
Muitas vezes, nós também, como os
escribas e fariseus, nos apegamos ao que a Lei nos exorta: “não fazer”.
Ficamos, então, alerta para não cometer as faltas mais graves como
matar, roubar, adulterar, ter maus pensamentos, etc. “Todo aquele que se encoleriza com o seu irmão será réu de juízo.”
O desejo primeiro de Deus, ao criar os
seres humanos, é que estes vivam na mais perfeita comunhão, deixando de
lado tudo quanto possa dividi-los e separá-los pelo muro da inimizade.
O ódio e a divisão constituem flagrante desrespeito à vontade divina.
O homicídio é uma forma incontestável de
ruptura com o próximo, culminando com a sua eliminação. Para evitar
isso, Deus condenou, definitivamente, esse crime com o mandamento: “Não matarás”.
Todavia, a eliminação física do próximo é
antecedida por outros gestos de eliminação de igual gravidade. Por
exemplo, a simples irritação contra os outros e as palavras ofensivas
contra eles são formas sutis de atentar contra a vida alheia. O
discípulo do Reino não pode agir desta maneira.
A Palavra de Deus – que Jesus veio
esclarecer para nós – vai além das coisas que praticamos, mas atinge
também o que nós pensamos, falamos ou expressamos a partir do nosso
coração. Assim sendo, não podemos chamar os nossos irmãos e irmãs de
“tolos” nem mesmo de ”idiotas”.
Quanto ensinamento para nós!
A oferta que fazemos ao Senhor será
desnecessária se, primeiro, não oferecermos a nossa compreensão e
perdão às pessoas com as quais nos relacionamos. Enquanto caminhamos,
aproveitemos o conselho do Mestre para que a nossa justiça seja maior
do que a justiça dos “mestres da Lei” e dos “fariseus” de hoje.
Como é a nossa justiça? O que é justo
para Deus? A justiça de Deus é o amor, o perdão e a reconciliação. Mas e
a nossa? Fazemos as nossas ofertas no altar do Senhor, mas como está o
nosso coração? Reflita agora: “Como eu trato as pessoas com as quais
convivo?”.
Você tem o costume de “falar mal” dos
outros e faz isso “de coração”? Já pensou que, quando você faz a
oferta do seu coração, na hora da Santa Missa, ele pode estar sujo pela
falta de perdão, da ofensa feita, do ódio por alguém?
A reverência a Deus passa pelo respeito ao próximo.
Na liturgia de hoje, Jesus exige de mim e
de você – como Seus discípulos – a reconciliação com o próximo antes
de fazer a próxima oferenda a Deus. Se alguém está para fazer sua
oferta, mas se recorda de algum desentendimento com o próximo, deverá
deixá-la aos pés do altar e reconciliar-se, antes, com o Senhor. Caso
contrário, a oferta não terá valor perante Deus.
O Senhor vem nos revelar que qualquer
doutrina ou lei só tem valor à medida que contribui para a libertação e
a promoção da vida. Jesus não propõe uma doutrina, mas ensina a
prática restauradora da vida. A grande novidade que Ele nos ensina,
hoje, é o perdão sem limites e a reconciliação, pois são estes que nos
levam à comunhão de vida com Deus e com os irmãos.
Por isso, quero, Senhor Jesus, que me
ensine a perdoar meus irmãos e irmãs para, assim, estar em comunhão com
o Seu Sacratíssimo Coração e com o coração do meu próximo.
Padre Bantu Mendonça