A busca de maior leveza e agilidade nas
instituições foi o tema de destaque no Seminário Nacional sobre a Vida
Consagrada, neste sábado, 25. O evento promovido pela CRB Nacional -
Conferência dos Religiosos do Brasil, reúne desde o dia 23, mais de 400
religiosos e religiosas do país, em Itaici, Indaiatuba- SP.
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Irmão Afonso Murad
(Foto: CRB)
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O tema foi abordado pelo
Irmão Afonso Murad, marista,
da Equipe de Reflexão Teológica da CRB, que iniciou a sua exposição com
a exibição de um vídeo sobre a história de superação de Diego, um
menino cego que escreveu em braille, uma redação sobre as cores das
flores, com sua máquina de escrever.
Iluminado por essa história, Irmão Murad apresentou alguns meios para
diminuir o peso das Instituições que, segundo ele, encontram-se
engessadas. “A vida adulta inclui os dois lados: a leveza e a carga,
desafios que devemos assumir. O problema é quando isso fica
desequilibrado e o peso é maior”, explicou ao apontar a necessidade de
eliminar pesos inúteis, mas também “aprender a lidar com aqueles pesos
que ainda não convém abandonar e acolher as cargas que fazem parte da
existência pessoal e comunitária”, destacou.
Para avaliar pesos inúteis, o assessor propôs textos bíblicos lembrando
que “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres”. Nesse
processo, segundo Murad, é importante enfrentar os desafios juntos.
Existem cruzes na vida do povo que precisam ser tiradas, mas “sempre que
entramos em processos de mudanças temos resistências”, alertou para, em
seguida apresentar uma lista de pesos institucionais: “máquina
burocrática com muitas estruturas; concentração do poder que afeta as
relações interpessoais; excesso de obras e poucas pessoas; atitudes de
negativismo, pessimismo; envelhecimento e perda de energia”.
Leveza e agilidade nas estruturas de governo que inclui uma revisão na
quantidade e qualidade das reuniões, descentralizar as decisões e
responsabilidade, abrir as instituições para a participação dos leigos e
profissionais e aprender com congregações que já fizeram as mudanças,
são, segundo Irmão Murad algumas das soluções.
Historicamente, com a expansão das obras criaram-se divisões jurídicas
em Províncias ou Regiões. “Hoje, com a diminuição de pessoal é preciso
enfrentar a redução também das Províncias e rever a prática de
comunicação para manter vivo o carisma e a unidade”, explicou ao
destacar a importância de se fazer uma gestão dinâmica e mais
profissional das instituições.
Sobre a concentração de poder que traz cansaço, desmotivação e
repetição, Murad afirmou que isso faz mal tanto para quem manda quanto
para os que (des)obedecem além de afetar a vitalidade do carisma. “É
necessário investir em novas lideranças. Há casos difíceis de
solucionar, reis e rainhas que não soltam a coroa”.
Por fim, falou do envelhecimento e da doença na Vida Congada ressaltando
a necessidade de cuidar com carinho dessas pessoas. “Precisamos
compreender que ninguém é obrigado a ser leve, mas temos uma
oportunidade de melhorar a nossa forma de viver com mudança e conversão
para ser mais feliz e alegre. A insegurança gera dureza, a liberdade
interior gera leveza e itinerância”, concluiu.
Na sequência, a Equipe de Reflexão Psicológica apontou estruturas pessoas e interpessoais que pesam.
Padre Deolino Baldissera, sds,
teceu considerações sobre as estruturas pessoais e interpessoais
pesadas. O psicólogo destacou três critérios para compreender as
pessoas: “examinar o nível de contentamento pessoal; a qualidade das
relações com os outros e a qualidade com que a pessoa assume as próprias
responsabilidades”.
Segundo padre Deolindo, é possível observar a intensidade dos conflitos
nas pessoas através da capacidade que elas têm de fazer a experiência de
Deus, estabelecer as relações interpessoais, de estudar e trabalhar. O
religioso apontou ainda algumas características que ajudam a perceber
quando um indivíduo é mais ou menos saudável. “E isso se refletirá na
maior ou menor leveza no exercício de suas funções. Quanto mais
saudáveis, mais propensos à leveza”.
Irmã Fátima Moraes, ascj, que também integra a equipe
de psicólogos, mostrou as características de uma pessoa pesada. Segundo
ela, “essa liderança é rígida com o outro que é visto como uma ameaça e,
isso bloqueia a dinâmica da comunidade. O maior peso vem do
infantilismo e de coisas insignificantes”.
A pessoa pesada acumula o peso em sua jornada como “dores, mágoas,
ressentimentos, o que dificulta a caminhada. Fixa-se em detalhes e não
consegue dar passos. É uma pessoa tensa, agitada e desconfiada. São
pessoas cansadas, tristes e sujeitas a doenças psíquicas”, alertou. Para
a religiosa, a pessoa que é pesada interfere nas relações
interpessoais.
Participantes do Seminário sobre a Vida Consagrada destacam a relevância dos temas debatidos no evento
No período da tarde aconteceu a Assembleia Geral Ordinária da CRB, no contexto da temática debatida no Seminário.
De acordo com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), há uma
conformação por parte da VRC com o mundo e ao confrontar essa realidade
com o Evangelho, constata-se que Jesus Cristo não é uma conformação, mas
uma transformação. É sobre essa questão que se embasa a opção pela
temática. Para
Frei Moacir Casagrande, assessor da
Equipe Bíblica da CRB, a loucura significa dar a vida para o outro ao
invés de tomá-la para si. “Essa é a loucura de Deus, Ele se entrega e
quer apenas que entremos na dinâmica dele”, finaliza.
Para os organizadores do Seminário, a Vida Consagrada não pode perder a
sua essência que consiste na doação total de si, a exemplo de Jesus
Cristo. A leveza é necessária para caminhar e “poder chegar até o fim”,
enfatiza Casagrande. No decorrer do Seminário, após cada intervenção dos
assessores, a assembleia faz ressonância do tema em pequenos grupos.
Essa é uma oportunidade para reagir e apresentar sinais de estruturas
que dificultam ou facilitam a vida e a missão das congregações. “Mas a
gente percebe que o mais importante é rever o próprio coração e as
estruturas internas que precisam ser renovadas”, diz
Irmã Helena Petri, Provincial da Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas.
A consciência de que é necessário rever a prática das instituições,
formas de lideranças, realidades que não eram vistas, são apontadas
pelos participantes como fatores positivos na avaliação. Além disso,
para
Padre Adalto Chitolina, SCJ, a possibilidade de
enfocar os assuntos sob ângulos diferentes, teológico, psicológico,
bíblico e missionário “ajuda a compreender que, as questões levantadas
não se resumem apenas num aspecto, mas tem várias abrangências”,
comenta.
Essa busca de uma maior leveza no ser e agir, nas relações comunitárias,
na missão e nas obras, é uma busca comum. “Aqui percebermos que os
problemas e as alegrias são visíveis em todas as congregações”, comenta P
adre Lino Baggio,
provincial dos Padres Palotinos. “O tema não vai ficar apenas com as
pessoas que estão aqui, eles vão ser repassados para os regionais, as
comunidades e congregações”, observa
Irmã Solange Damião,CRSD,
Presidente da CRB Regional de Belo Horizonte – MG, e destaca a
necessidade de dar prosseguimento às discussões realizadas no Seminário.