Funeral de Lucio Dalla: a Igreja é hipócrita?
A Igreja uma casa acolhedora.
Retratá-la como perenemente sombria e "hipócrita", porque somos
perenemente vítimas de um complexo de inferioridade muito "de esquerda",
é uma tolice, além de uma injustiça lexical e conceitual. Confira a
análise do jornalista e político italiano Mario Adinolfi.
![]() Marco Alemanno faz a oração de despedida no funeral de Lucio Dalla. (Foto: Arquivo) |
Achei
verdadeiramente fora de propósito o artigo desta segunda-feira de
Michele Serra elogiando o "véu de hipocrisia rasgado", porque no funeral
de Lucio Dalla a Igreja permitiu que o "viúvo" Marco Alemanno
expressasse a sua dor publicamente durante as exéquias bolonhesas. Fora
de propósito nos tons e nos conteúdos. Fora de propósito porque a Igreja
nunca vetou a expressão da dor nos funerais, nunca proclamou editos
contra a dor homossexual, nunca foi hipócrita nesse delicado território.
Ao contrário, sempre foi muito clara. Ela repete regras. Foram repetidas também por Mons. Cavina durante o funeral de Dalla, e Serra não deixou de notar e de ridicularizá-lo por isso. As regras são banais, talvez, mas não hipócritas: não pode se aproximar à Eucaristia quem está em pecado mortal, quem vive em "desordem". Portanto, um homossexual que não renuncia a esse comportamento sexual que, para a Igreja, está fora da ordem natural, não pode fazer a comunhão.
Marco Alemanno não pode fazê-la, nem eu não posso fazê-la, por ser divorciado e amar outra pessoa. A mim também a Igreja veta a Eucaristia: é uma regra, eu a aceito, quando vou à missa evito fazer a comunhão. Onde está a hipocrisia da Igreja? É de uma clareza que quase dá medo, repete as suas regras mesmo diante de 50 mil pessoas que acorreram a um funeral muito pop, veta até que se cantem as canções do falecido.
Quanta beleza há nessas clarezas, caro Serra. Há realmente toda essa necessidade de colocá-la na berlinda? De ridicularizar o gesto amoroso e acolhedor de não vetar o acesso ao altar do companheiro de Lucio Dalla, demonstrando mais uma vez (se ainda fosse necessário) que se é mais caridoso na sua concretude?
A Igreja é um último baluarte. O desafio contínuo que é inventado pela esquerda para tentar manchá-la é enjoativo e até mesmo perdedor. No fim dos jogos, todos nos encontramos aí: não há mais casas do povo e seções do partido. Há uma Igreja, e nos encontramos ali, pela alegria de um batismo, de uma primeira comunhão, de um casamento e pela dor de um último adeus.
Reencontramo-nos todos ali, antes ou depois, porque é a única casa que ficou confiavelmente de pé para muitíssimos, senão para quase todos. É uma casa acolhedora. Retratá-la como perenemente sombria e "hipócrita", porque somos perenemente vítimas de um complexo de inferioridade muito "de esquerda", é uma tolice, além de uma injustiça lexical e conceitual.
Sim, a Igreja tem regras; o clube do Mickey também tem. Se você as respeita, faça a comunhão. Caso contrário, não. Está tudo aí. Depois, há amor e acolhida, concreta, para todos. Para Marco Alemanno e a sua dor, assim como para os últimos da terra.
Chega de ideologismos anticlericais, chega de bandeiras hasteadas para que um asilo de irmãs pague impostos, asilo que corre o risco de fechar por causa dessas pesadas taxas.
Olhemos para a Igreja, particularmente para a Igreja italiana, com o devido respeito. O crescimento da esquerda se alimentará com isso, que, talvez muito lentamente, se libertará do seu complexo de inferioridade.
Ao contrário, sempre foi muito clara. Ela repete regras. Foram repetidas também por Mons. Cavina durante o funeral de Dalla, e Serra não deixou de notar e de ridicularizá-lo por isso. As regras são banais, talvez, mas não hipócritas: não pode se aproximar à Eucaristia quem está em pecado mortal, quem vive em "desordem". Portanto, um homossexual que não renuncia a esse comportamento sexual que, para a Igreja, está fora da ordem natural, não pode fazer a comunhão.
Marco Alemanno não pode fazê-la, nem eu não posso fazê-la, por ser divorciado e amar outra pessoa. A mim também a Igreja veta a Eucaristia: é uma regra, eu a aceito, quando vou à missa evito fazer a comunhão. Onde está a hipocrisia da Igreja? É de uma clareza que quase dá medo, repete as suas regras mesmo diante de 50 mil pessoas que acorreram a um funeral muito pop, veta até que se cantem as canções do falecido.
Quanta beleza há nessas clarezas, caro Serra. Há realmente toda essa necessidade de colocá-la na berlinda? De ridicularizar o gesto amoroso e acolhedor de não vetar o acesso ao altar do companheiro de Lucio Dalla, demonstrando mais uma vez (se ainda fosse necessário) que se é mais caridoso na sua concretude?
A Igreja é um último baluarte. O desafio contínuo que é inventado pela esquerda para tentar manchá-la é enjoativo e até mesmo perdedor. No fim dos jogos, todos nos encontramos aí: não há mais casas do povo e seções do partido. Há uma Igreja, e nos encontramos ali, pela alegria de um batismo, de uma primeira comunhão, de um casamento e pela dor de um último adeus.
Reencontramo-nos todos ali, antes ou depois, porque é a única casa que ficou confiavelmente de pé para muitíssimos, senão para quase todos. É uma casa acolhedora. Retratá-la como perenemente sombria e "hipócrita", porque somos perenemente vítimas de um complexo de inferioridade muito "de esquerda", é uma tolice, além de uma injustiça lexical e conceitual.
Sim, a Igreja tem regras; o clube do Mickey também tem. Se você as respeita, faça a comunhão. Caso contrário, não. Está tudo aí. Depois, há amor e acolhida, concreta, para todos. Para Marco Alemanno e a sua dor, assim como para os últimos da terra.
Chega de ideologismos anticlericais, chega de bandeiras hasteadas para que um asilo de irmãs pague impostos, asilo que corre o risco de fechar por causa dessas pesadas taxas.
Olhemos para a Igreja, particularmente para a Igreja italiana, com o devido respeito. O crescimento da esquerda se alimentará com isso, que, talvez muito lentamente, se libertará do seu complexo de inferioridade.
Jornal Europa, 06-03-2012. Tradução IHU-Unisinos
Mario Adinolfi
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