sábado, outubro 27, 2012

O Padre e o Ator




           
 Certa vez um grupo de teatro chegou a uma pequena cidade para apresentar uma peça.  Como não havia teatro no local, recorreram ao padre para pedir-lhe o salão paroquial para a apresentação.

            Cordialmente o padre concedeu. De imediato, o organizador do grupo o convidou para assistir à peça que seria no outro dia, sábado à noite. Gentilmente o padre aceitou, mas com uma ressalva: que toda equipe fosse à missa no domingo pela manhã. Combinaram. 

            No sábado à noite, no salão paroquial, na hora marcada, lá estava o padre alegre e ansioso, para ver a apresentação. Antes do início do espetáculo a plateia estava  atônita com tanta beleza de luz, som, figurino, organização. Todos ficaram encantados; nunca tinham visto um ambiente tão harmonioso. O espetáculo começou. Silêncio total. A peça transcorreu muito bem... No final, todos emocionados aplaudiram  prolongadamente. O padre não escondia sua alegria.

            No dia seguinte, de manhã cedo, lá estava a equipe de atores na Igreja para assistir à missa do padre, como haviam combinado. No início, alegremente, o padre apresentou-se à comunidade e a cerimônia se desenrolou normalmente.  Após a celebração,  todos foram à casa paroquial tomar café e conversar.  O responsável pelo grupo perguntou ao padre: - Diga-nos, que impressão o teatro deixou no senhor? - A melhor!, disse o padre.

- Detalhe para nós sua avaliação; é importante para o nosso crescimento, por favor ! - A equipe está de parabéns em tudo, seja nos cenários ou nas roupas, na iluminação, no som, no domínio do público etc.  Belo, tudo muito belo ! A plateia, que coisa impressionante, na hora do silêncio não escutava nada, já na hora de rir, como riam e, para minha surpresa, choravam nos momentos dramáticos. Fantástico !

            É o que tenho a dizer. Mas, e a Missa qual é a impressão de vocês?  Digam-me!

            Todos se entreolharam, mas ninguém queria se pronunciar. Como o  padre insistiu, o responsável do grupo comentou: 

            - Padre, não sou a melhor pessoa para avaliar, pois não sou um bom fiel; apenas quero falar como um ator. 
             -  Isso! exclamou o padre, alegremente.

            - Nós somos atores e trabalhamos em equipe com objetivo de transmitir  à plateia uma história que deve ser compreendida e vivida por todos, atores e público, mesmo que não seja verdadeira. 

            - É verdade. Eu mesmo, disse o padre, entrei na história ri e  chorei.

Mas padre o que não compreendo é que você com sua equipe tem uma verdade para ser apresentada que é a história de Jesus, mas usam de instrumentos para transmitir tal verdade que as pessoas acham que não passa de uma mentira tudo  que querem passar.

- Como assim ! Replicou o padre. 

- Se temos uma mensagem para transmitir ela não será apresentada apenas com voz e sim com vários instrumentos e, sobretudo, com as pessoas que estão envolvidas na transmissão. Lembrem-se, padre, nosso comportamento, gestos, concentração, união,  vestuário, também comunicam.

- Estou compreendendo, disse o padre, atento a tudo que lhe dizia o ator. Este continuou:a sua equipe é quem mais conversa durante a missa.  Coisa imperdoável no teatro.  Lá tudo deve ser combinado antes.  As pessoas que estão em seu redor, um desastre !Mal vestidas, mal humoradas, túnicas amassadas, cochilam, bocejam, jogam as pernas para um lado e para o outro, apresentam-se insatisfeitas, etc., os que usam a voz, os leitores, nossa, um tormento.  Não sabem ter postura na mesa da palavra. E o pior ainda, lêem sem vida, como se não acreditassem nas palavras. Dão a entender que não leram antes, não ensaiaram, impensável no teatro ! O ator tomou água e prosseguiu.

            - Os cantores, que têm uma função importante na celebração, pude perceber que são improvisadores. Enquanto você celebra, eles estão procurando o que cantar em seguida.  Conversam, riem, verdadeiramente não comunica o divino. 

            O padre parecia atônito a tudo isso e em silêncio tudo escutava.

            - O espaço onde aconteceu a celebração é sagrado, mas a forma como o arrumam, nega totalmente o zelo pelo sagrado. Observe o que lhe digo: as velas, os tecidos que ornamentam, as cadeiras, o altar dos santos. Os arranjos de flores, tudo parece mais um caos devido à  desorganização. Não comunicam que ali habita Deus.

            - Volto a afirmar: vocês têm uma verdade para anunciar e apresentar; mas, da forma que apresentam parece ser mais uma mentira; e nós temos uma mentira a apresentar e as pessoas aceitam como verdade. Algo em você e na equipe está errado. Corrija enquanto é tempo. Deus merece ser comunicado em tudo e em todos. 

  - O que fazer? Perguntou o padre.

           - Faça com que sua equipe zele pelo sagrado e comunique Deus em tudo.  Ele é uma verdade e deve ser compreendido em tudo na Igreja e na equipe. 

O padre pensativo, agradeceu as colocações e se despediram.

- QUE REFLEXÃO O TEXTO SUGERE PARA NOSSA MANEIRA DE SER IGREJA?

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