sábado, maio 19, 2012

20 de maio / 2012 - Ascensão de Nosso Senhor/ B

    Liturgia 

    A PALAVRA E OS SINAIS DO SENHOR GLORIOSO

    1ª leitura: (At 1,1-11) Ascensão de Jesus e missão dos apóstolos – Os dias entre a Páscoa e a Ascensão formam “o retiro de preparação” (40 dias!) para o desabrochamento da Igreja. Foram as últimas instruções de Jesus aos seus: promessa e missão. Eles deverão levar a mensagem de Jesus ao mundo inteiro, e para isso receberão a força do Espírito. Até o Senhor voltar, sua Igreja será missionária. * 1,1-5 cf. Lc 1,1-4; Mt 28,19-20; Lc 24,42-43.49; 3,16 * 1,6-11 cf. Mt 24,36; Lc 24,48.50-51; Mc 16,19; Ef 4,8-10; Sl 110[109],1.
    2ª leitura: (Ef 1,17-23) A força de Deus, revelando-se na exaltação do Cristo – A oração do autor se transforma em proclamação dos magnalia Dei em Cristo. Deus o ressuscitou e o fez cabeça da Igreja e do universo. A Igreja é seu “corpo”, ela o torna presente no mundo, ela é a presença atuante de Cristo no mundo. * 1,17-18 cf. Cl 1,9-10; Ef 3,14 * 1,19-21 cf. Sl 109[110],1; Fl 2,9-11; Cl 1,16 * 1,22-23 cf. 8,6; Ef 4,10.15; Cl 1,18-19.
    Evangelho: (Mc 16,15-20) Final do evangelho de Mc – Mc 16,9-20 é um complemento do final original de Mc (terminado em 16,8), resumo das diversas tradições no N.T. a respeito dos acontecimentos pascais. Mc 16,14 inspira-se de Lc 24,36 e Mt 28,16-17 (dúvida dos apóstolos). Mc 16,15 sintetiza Mt 28,18-20: missão de evangelização radical. Esta missão será acompanhada por sinais milagrosos (cf. vários textos de At; compare Mc 16,18a com At 28,3-6!). Por final, notifica o arrebatamento de Jesus (cf. Elias) e sua instalação à direita de Deus (cf. At 2,33ss; Sl 110[109]) e o início da pregação apostólica. * Cf. Mt 28,16-20; Lc 24,36-39; Jo 20,19-23. 
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    O evangelho de hoje é quase um resumo dos Atos dos Apóstolos. O Cristo glorioso, na hora de sua despedida, confia aos apóstolos a missão e já prediz aquilo que o livro dos Atos, de fato, descreve com relação a essa missão: o poder de Cristo acompanha seus discípulos na pregação. O texto insiste mais nos sinais que acompanham a palavra do que no conteúdo desta. Isso pode dar a impressão de certo “sensacionalismo”. Devemos ver isso com os olhos daquele tempo: os sinais prodigiosos confirmavam que “Deus estava com eles”. (Neste sentido, Mc 16,15-20 pode também ser considerado como uma explicitação das últimas palavras de Mt 28,20.) O Senhor glorioso, estabelecido no “poder”, dá uma força incrível aos que pregam o seu “nome” (16,17b; cf. At 3). Isso continua sendo verdade ainda hoje. O Senhor glorioso não deixa de dar força aos que se empenham pela pregação de seu Reino. A evangelização hoje é acompanhada por sinais que causam tanta admiração quanto os “milagres” descritos em Mc 16,17-18: pessoas que conseguem livrar-se do vício, do fascínio do lucro; comunidades que se baseiam não na competição, mas na comunhão; apóstolos que parecem abolir as fronteiras humanas; pessoas que, sem serem complexadas, vivem o matrimônio (ou a virgindade) em fidelidade. Será que tudo isso é menos significativo do que pegar em cobras ou beber veneno?
    O evangelho não depende de sinais. Mas, onde há fogo, sai fumaça: a presença do evangelho, por escondida que seja, não pode deixar de chamar a atenção. Transforma a realidade lá onde menos se espera.
    A Ascensão de Cristo ao céu nos torna os encarregados da missão à qual ele, em sua glória, preside. Manifestamos o seu nome, e os sinais confirmam o seu “poder”, que se encarna na pregação do evangelho. O evangelho não deixa as coisas como estão. Essa é a mensagem de hoje. 

    “O SENHOR COOPERAVA COM ELES”

     Depois da ressurreição, Jesus deixou sua missão terrena e subiu aos céus, confiando sua missão aos seus. E “o Senhor cooperava com eles” (evangelho). Depois da Páscoa, tudo mudou. Antes, Jesus era o profeta rejeitado; depois, ele apareceu entrando na glória do Pai – que assim mostrou aos discípulos que Jesus teve razão naquilo que ensinou e realizou. Antes, Jesus chamava os discípulos para serem seus colaboradores; depois, ele é quem “coopera com eles”, pois agora sua obra está nas mãos deles.
    O Ressuscitado mandou os discípulos anunciar a Boa-Nova e lhes prometeu forças extraordinárias para cumprirem sua missão. Quem se empenha corpo e alma pela causa de Deus faz maravilhas, enquanto o acomodado não consegue nada. Movidos pelo amor ao Senhor, os apóstolos se jogaram na pregação, e coisas inimagináveis aconteceram. Ficamos maravilhados ao ler de que foram capazes um José de Anchieta, uma Madre Teresa de Calcutá... A festa da Ascensão nos ensina a fazer de Jesus realmente o Senhor de nossa vida e a arriscar tudo para levar sua missão adiante – realizando o que parecia impossível. Pois ele coopera.
    Coopera de modo extraordinário. Não que o extraordinário em si seja uma prova da divindade. No tempo de Moisés havia os feiticeiros do Egito e no tempo dos apóstolos, os taumaturgos judeus e pagãos. O extraordinário, de per si, é ambíguo, alimenta o sensacionalismo, o “Fantástico” na televisão etc. Ora, na pregação, o extraordinário tem valor de sinal quando mostra que o Espírito do Ressuscitado impulsiona o mensageiro, quando faz reconhecer Jesus como o Senhor e como aquele que coopera com aqueles que estão a seu serviço –­ como aquele que tem força para mudar o mundo, quando os seus se empenham por isso.
    Mas esse poder não serve para glória própria. Serve para o amor, para o projeto pelo qual Jesus deu a vida. Jesus não veio para conquistar o poder, mas para servir e dar a vida pela humanidade. Veio para manifestar o amor de Deus. Se manifesta o poder de Jesus-Senhor, a evangelização deve, antes de tudo, demonstrar o amor de Jesus-Servo. O extraordinário, na evangelização, serve para manifestar que o amor de Deus, tornado visível em Jesus, tem a última palavra.
    Atualizando, poderíamos considerar coisas que são, nesse sentido, extraordinárias: a transformação das estruturas de nossa sociedade, enferrujada em seu egoísmo; a vitória da justiça sobre a corrupção; a vitória da solidariedade e da dignidade humana sobre as muitas formas de vício e degeneração...
    Há grupos religiosos que exibem mais “milagres” do que nós, católicos. Será que por isso devemos apostar mais nas coisas sensacionais? O extraordinário é um sinal, não a causa mesma que está em jogo. É bom ter sinais, mas o mais importante é que a causa seja apresentada na sua integridade. E essa causa é o amor de Cristo que nos impulsiona. Extraordinário mesmo é o que, nas circunstâncias mais contrárias, fala desse amor. Aí, “Ele” aparece cooperando conosco.

    (O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total.)

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