Breve perfil histórico-biográfico do “Irmão Universal”
O Beato Charles de Foucauld (Irmão Carlos de Jesus) nasceu
em Estrasburgo, França, a 15 de Setembro de 1858, de família nobre. A sua
primeira infância ficou marcada pela religiosidade profunda de sua mãe. A
senhora De Foucauld soubera indicar aos seus dois filhos, Charles e Marie, o
caminho na misericórdia mais com os gestos do que com as palavras e de forma
eficaz. A sua lembrança ficou imprimida nos seus corações de forma indelével.
Faleceu a 13 de Março de 1864, aos 34 anos de idade; em 19 de Agosto do mesmo
ano faleceu também o marido. Os filhos órfãos foram entregues ao avô paterno, um
coronel reformado, que tinha na altura cerca de setenta anos. O Charles tinha
apenas 6.
Mas o Charles perdeu a fé aos dezesseis anos e ficou num
estado de indiferença religiosa durante mais de doze anos. Era conhecido por
todos como amante do prazer e da vida fácil, conseguindo revelar, no entanto,
uma vontade forte e constante nos momentos difíceis
Em 1878 foi para a tropa como subtenente e partiu para a
África, naquela época em que a França estava a colonizar a Argélia. A seguir,
despediu-se da vida militar para se dedicar à exploração de Marrocos
(1883-1884), onde organizou uma expedição perigosa, percorrendo 3 mil
quilómetros camuflado de rabino judaico. Foi assim que descobriu, tanto entre
os muçulmanos como entre os judeus, a lei sagrada da hospitalidade. Para
Charles, foi coisa desconcertante descobrir amigos entre pessoas estranhas. O
resultado dessa viagem foi um importante estudo geográfico daquele país, o qual
veio a merecer-lhe a atribuição da medalha de ouro da Sociedade Geográfica.
A exploração de Marrocos transformou-o. Deu-se com os
muçulmanos «que vivem continuamente na presença de Deus» e ficou «fortemente
perturbado» com isso, a pontos de confidenciar no papel a seguinte reflexão:
«Ver estas almas que vivem na presença contínua de Deus fez-me intuir algo de
maior e mais verdadeiro que as ocupações mundanas». A pergunta sobre Deus
surgiu-lhe então como consequência imediata desta experiência: «Meu Deus, se
existis, fazei com que vos conheça! ».
Voltando à França, foi recebido com afeto e discrição pela
família de sua irmã, que era profundamente cristã. Logo se lançou à procura de
Deus, tendo encontrado um padre para o instruir. Foi então guiado pelo Abbé
Henri Huvelin e encontrou Deus em Outubro de 1886. Tinha 28 anos. «Como passei
a acreditar que havia um Deus, logo compreendi que nada mais podia fazer senão
viver só para Ele»,
Fez depois uma peregrinação à Terra Santa, que lhe revelou a
sua vocação: seguir e imitar Jesus na sua vida de Nazaré. Viveu sete anos nos
Trapistas, primeiro em Nossa Senhora das Neves e depois em Akbès, na Síria. A
seguir passou a viver perto das Clarissas de Nazaré, na oração, na solidão e em
grande pobreza. Foi ordenado sacerdote aos 43 anos (1901) na Diocese de Viviers
e obteve licença para ir para o deserto argelino do Sara, primeiro em Beni-Abbés,
pobre no meio dos pobres, e depois em Tamanrasset com os Tuaregues de Hoggar.
O seu sonho foi sempre o de partilhar a sua vida com os
outros. Escreveu várias Regras, com a ideia de que a “vida de Nazaré” poderia
ser vivida por todos e em toda a parte.
Na noite de 1 de Dezembro de 1916, enquanto o seu eremitério
estava a ser saqueado, um jovem matou-o com um tiro na cabeça. Contra a vontade
do próprio Charles de Foucauld, que queria ser sepultado em Hoggar, os seus
restos mortais (à exceção do seu coração, que ficou numa urna em Tamanrasset)
foram, após alguns anos, trasladados para El-Golea, que fica a mais de mil
quilómetros ao norte e a 950 quilómetros de Argel. O lugar que agora acolhe o
Tuaregue Universal é austero e fica próximo da primeira igreja construída pelos
Padres Brancos no Sara. É lá que jazem os restos daquele que quis testemunhar a
fraternidade universal para lá de qualquer filiação religiosa e nacional.
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