segunda-feira, dezembro 12, 2016

Auscultação da Palavra de Deus

A Palavra reproduz no seu coração os sentimentos de Jesus; ajuda-o a colocar-se numa atitude de atenção e percepção da vontade do pai; dá-lhe a luz e a força do Espírito, ambas necessárias para realizar a missão salvadora do Verbo, no estilo específico da sua vocação. Graças a um método que envolvia inteligência e sensibilidade, o Beato Charles de Foucauld soube entrar numa relação viva com Jesus e aplicar à vida quotidiana o projeto que brotava da própria Palavra.



Autoconhecimento
O Beato Charles de Foucauld revela saber avançar no caminho da exploração de si mesmo, do rico e misterioso universo das suas próprias capacidades e limitações, consciente de que Deus não o obriga a vestir um hábito contrário à sua estatura. Os seus escritos revelam vigilância na delicada interpretação dos estados afetivos: regista com diligência os sentimentos de alegria e paz, de cansaço e de perturbação, que experimentara num dado período. A análise dos estados de espírito – como bem sabemos – é elemento importante que o sério discernimento não pode evitar nem deixar de sublinhar.

«O amor não consiste em sentir que se ama; mas em querer amar: quando se quer amar, ama-se…Quanto ao amor que Jesus tem por nós, Já Ele o demonstrou à saciedade, porque nós acreditamos nele sem o sentirmos: sentir que O amamos e que Ele nos ama, seria atingir o paraíso; e o paraíso não existe aqui em baixo, salvo em raros momentos e exceções». Por isso torna-se indispensável conformar a nossa sensibilidade com o sentir de Cristo (cfr. Fil 2, 5) para aprender a ler a história como Ele a vê, a alegrarmo-nos com aquilo que a Ele causa prazer; a entristecermo-nos com aquilo que o fere (cfr. Rm 12, 2). Assim, Charles procura alimentar a sua imaginação com o Jesus dos Evangelhos para aguçar a sua visão, para formar cristologicamente a sua interioridade e adquirir um autêntico gosto espiritual.



A atenção para com a história


O Beato Charles de Foucauld está plenamente convencido de que a vontade de Deus se revela mais claramente onde a caridade for solicitada a identificar e a responder às necessidades sempre novas das pessoas e às urgências vivas e palpitantes da história do seu tempo e do contexto em que vivia. «É preciso ir até onde a terra já não é santa, aonde se encontram as almas em maior necessidade». E assim, ultrapassando os limites estreitos do projeto pessoal, está sempre disponível para responder às necessidades que pouco a pouco vão sendo identificadas por aqueles que têm a responsabilidade dos cuidados pastorais.

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