Auscultação da Palavra de Deus
A Palavra reproduz no seu coração os sentimentos de Jesus;
ajuda-o a colocar-se numa atitude de atenção e percepção da vontade do pai;
dá-lhe a luz e a força do Espírito, ambas necessárias para realizar a missão
salvadora do Verbo, no estilo específico da sua vocação. Graças a um método que
envolvia inteligência e sensibilidade, o Beato Charles de Foucauld soube entrar
numa relação viva com Jesus e aplicar à vida quotidiana o projeto que brotava
da própria Palavra.
Autoconhecimento
O Beato Charles de Foucauld revela saber avançar no caminho
da exploração de si mesmo, do rico e misterioso universo das suas próprias
capacidades e limitações, consciente de que Deus não o obriga a vestir um
hábito contrário à sua estatura. Os seus escritos revelam vigilância na
delicada interpretação dos estados afetivos: regista com diligência os
sentimentos de alegria e paz, de cansaço e de perturbação, que experimentara
num dado período. A análise dos estados de espírito – como bem sabemos – é
elemento importante que o sério discernimento não pode evitar nem deixar de
sublinhar.
«O amor não consiste em sentir que se ama; mas em querer
amar: quando se quer amar, ama-se…Quanto ao amor que Jesus tem por nós, Já Ele
o demonstrou à saciedade, porque nós acreditamos nele sem o sentirmos: sentir
que O amamos e que Ele nos ama, seria atingir o paraíso; e o paraíso não existe
aqui em baixo, salvo em raros momentos e exceções». Por isso torna-se
indispensável conformar a nossa sensibilidade com o sentir de Cristo (cfr. Fil
2, 5) para aprender a ler a história como Ele a vê, a alegrarmo-nos com aquilo
que a Ele causa prazer; a entristecermo-nos com aquilo que o fere (cfr. Rm 12,
2). Assim, Charles procura alimentar a sua imaginação com o Jesus dos
Evangelhos para aguçar a sua visão, para formar cristologicamente a sua
interioridade e adquirir um autêntico gosto espiritual.
A atenção para com a história
O Beato Charles de Foucauld está plenamente convencido de
que a vontade de Deus se revela mais claramente onde a caridade for solicitada
a identificar e a responder às necessidades sempre novas das pessoas e às
urgências vivas e palpitantes da história do seu tempo e do contexto em que
vivia. «É preciso ir até onde a terra já não é santa, aonde se encontram as
almas em maior necessidade». E assim, ultrapassando os limites estreitos do projeto
pessoal, está sempre disponível para responder às necessidades que pouco a
pouco vão sendo identificadas por aqueles que têm a responsabilidade dos
cuidados pastorais.
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