Uma caminhada sobre ondas
Para bem compreender o Beato Charles de Foucauld é preciso
lembrar que ele foi um homem totalmente dominado por Deus. Tal como ele
confessou: «Tão logo compreendi que Deus existe, compreendi que nada mais podia
fazer que viver para Ele: a minha vocação religiosa nasceu ao mesmo tempo que a
minha fé; Deus é tão grande! E entre Deus e tudo aquilo que não é Deus há uma diferença
tão grande! ». Assim, renovou a sua opção radical pela “sequela” (ou
seguimento) de Cristo, em etapas bem distintas: através do encontro com os
lugares santos, na austeridade da Trapa, no serviço humilde em Nazaré. Para si
só queria a oração, a pobreza, a penitência, enquanto que aos outros dava o
tesouro do amor que ardia no seu coração. Depois da ordenação sacerdotal (1901)
e da vivência de Beni-Abbés, estabelecer-se-ia definitivamente em Tamanrasset
(1905), em pleno deserto, para dedicar a sua vida aos Tuaregues.
Escolheu portanto um “modo novo” de viver a sua vocação, que
poderíamos chamar de “paradoxal”. Foi monge sem mosteiro, mestre sem
discípulos, eremita entre as pessoas para as levar a Jesus. Como fundador,
escreveu várias Regras que só depois da sua morte iriam dar origem a novas
Famílias Religiosas.
O maior paradoxo foi o de ter colocado as suas passadas exatamente
sobre as pegadas de Jesus. O testemunho de santidade que ele oferece à Igreja e
ao mundo está marcado por um estilo singular de “sequela” que se poderia chamar
de “coincidência dos opostos”: contemplação e ação, paragem solitária com Deus
e dedicação incondicionada aos irmãos, aniquilação da cruz e amizade fraterna,
heroicidade de vida e necessidade incontrolável de o anunciar aos outros.
Enamorado de Jesus, quis segui-lo, imitá-lo e anunciá-lo até aos últimos
confins da terra e até ao fim dos séculos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário