segunda-feira, dezembro 12, 2016

A direção espiritual

No início da sua procura de Deus, Charles de Foucauld aspirava à fé como se fosse uma certeza racional: «Esta religião poderia não ser uma loucura…talvez seja a verdade…Lancemo-nos para o estudo desta religião: arranjemos um professor de religião, um padre instruído e vejamos que virá cá para fora, e se há razão para acreditar no que ele diz». Logo foi procurar um “mestre”, encontrando-o na pessoa do Padre Henri Huvelin. Não tinha vontade de se confessar; apenas queria ter informação sobre a religião católica. Mais tarde, num dos seus retiros espirituais viria a escrever, ao falar a Deus do seu mestre de espírito: «Puseste-me sob as asas deste santo e aí fiquei: com as suas mãos tu me levaste desde então e não tem havido senão uma graça atrás da outra: eu pedia lições de religião mas ele fez-me pôr de joelhos e confessar-me; e enviou-me logo a fazer a comunhão. […] Desde então que só tem havido uma graça após outra». Aquele venerando ancião dirigiu-o sempre com mão firme. Era um homem de Deus, um homem que «se tornara oração», como o próprio Foucauld veio a dizer mais tarde.

A santidade é sempre a força que maior poder de atração exerce sobre as pessoas. O Charles considera a submissão ao diretor espiritual uma garantia de segurança na difícil procura da vontade divina. Expõe os seus sentimentos em cada carta que lhe escreve, abre a sua alma o mais possível, tenta colocar-se num estado de indiferença e promete renunciar a tudo se o seu diretor espiritual lho pedir, terminando sempre com uma confissão de obediência e com atos de abandono ao juízo do seu diretor.



Disponibilidade para a conversão contínua

É impressionante a radicalidade da conversão de Charles de Foucauld. Quebra com o seu passado, decidido a colocar-se radicalmente ao serviço de Deus. Nunca foi um homem de meias medidas. Sempre quis ir até ao fundo das coisas em tudo. Até na sua conversão: «Não procuremos corrigir-nos a meias, ou converter-nos a meias: isso será impossível. É preciso chegar a converter-nos completamente, se não nunca nos converteremos». Afinal trata-se de passar dum querer individualista à adesão total e livre ao projeto de Deus: «Tudo me diz para me converter; tudo me canta a necessidade de me santificar; tudo me repete e grita para que, se um bem que eu quero não aparecer, será apenas por minha culpa; e então eu tenho que me despachar na conversão».

No seu itinerário de conversão, o Charles só tem um modelo: Jesus. «Segue-me, apenas a mim…Não venhas a Betânia para me ver a mim e também a Lázaro; vem para me ver, só a mim… Pergunta-me o que eu fazia; ‘Examina as Escrituras’ (Atos, 11); observa os santos, não para os seguires, mas para veres como me seguiram e pega, de cada um, aquilo que achares que vem de mim, ou é imitação de mim…e segue-me, só a mim».

Desde este momento, O Charles apenas toleraria um desejo: o de responder a este amor de Deus, impelido por uma necessidade desmedida de o imitar: «Eu amo Nosso Senhor Jesus Cristo; amo-o e não poderei levar uma vida diferente da dele».



Espiritualidade radical e profética

O núcleo central da espiritualidade de Charles de Foucauld é a “espiritualidade de Nazaré”. Nazaré é um lugar, uma experiência, um símbolo na sua espiritualidade. A investigação, por vezes bastante fiel, de muitos exploradores do seu itinerário espiritual, parece ser unânime em afirmar que viver “como pequeno irmão de Jesus em Nazaré” é certamente a constante que alumia a sua aventurosa vocação religiosa e unifica o itinerário da sua maturação eclesial. Ser um pequeno irmão de Jesus equivale a dar vida a uma relação teologal que se exprime numa coabitação fraterna com o Senhor em prol dos outros.


Os elementos componentes da espiritualidade de Nazaré podem sintetizar-se da seguinte forma:

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